“Trago palavras” é a primeira individual da artista Manoela Monteiro em Vitória – ES, com pinturas em pequenos e grandes formatos, colagens e uma instalação de bordados, imagens e textos, que remetem à um espaço de intimidade da artista na construção da sua poética. 

Em um jogo doce de cores e confissões, Manoela nos traz não somente palavras, mas notícias do seu processo estruturado em múltiplas referências e na inquietação de quem está em franco movimento de inscrição da própria assinatura. Ao levantar suas âncoras e ganhar mundo, a artista se vale do vigor e da leveza que habitam as despretensões para reverberar a insuficiência da escrita, a dúvida da pincelada.

A partir de palavras conquistadas, que a artista pediu de maneira aleatória para algumas pessoas, os textos produzem espaço como pistas labirítincas e convidam o público a se engajar – ou quem sabe se esquecer – para descontruir conceitos prévios e se lembrar de algo a partir de si mesmo. O enfrentamento do que não sabemos diz respeito à nossa condição vital e fazer a imaginação prevalecer é um substrato, no mínimo, instigante.

A obra de arte é uma descontinuidade por essência. Em trajeto sináptico, a artista tomba as hierarquias entre texto e imagem para se tornar uma costureira que não repara as diferenças, mas cultiva as extensões, em tentativas incessantes de bord(e)ar uma coisa na outra, uma letra na outra, uma cor na outra. 

Num mundo com excessos de etiquetas e sentidos, Manoela propõe uma atmosfera de profundidade e aconchego para nos espreguiçarmos do sono que embota e enxergarmos a beleza das delicadezas.

Se as únicas coisas que podem nos interessar são as que não nos pertencem – dito do Manifesto Antropofágico – Manoela abre suas obras como processo, seu processo em obras, para além das palavras, manifestar ecos impermanentes da criação de si na construção  afetiva de uma alfaitaria pictórica.


Flávia Dalla Bernardina
Curadora