ABERTURAS

Abertura é um ato ou efeito de se abrir ou um espaço vazio, um buraco, uma fresta. Sem nos ocupar das definições, nos aparece como um movimento: seja grande ou íntimo, a abertura pode ser aquilo que modifica nossa percepção e nos convoca a entregar ao mundo um produto desse atravessamento. Cocriar o que não existe, de um colar de pérolas, a telas.

Você me diria que tudo já foi feito. Eu insistiria, que se assim fosse, estaríamos paralisados. Se ainda ousamos a nos abrir é porque há sempre uma maneira inaugural de percorrer os caminhos – ainda que sejam aqueles que já conhecemos.

Nesta exposição, Ivana Izoton opera uma dupla abertura – da Parede Galeria e de suas pinturas. Dizer que Ivana é designer de joias seria reduzi-la a uma parte de sua atuação criativa. Influenciada em seus estudos pela arquitetura, pela fotografia e pela moda, seu olhar peculiar para as gemas é um desdobramento da multiplicidade de fontes que alimenta sua produção.

A Parede Galeria é a materialização de um desejo de expor jovens artistas em início de carreira e trazer esse vigor para um diálogo com seu espaço e sua produção na joalheria.

Na mostra que inaugura o projeto, Ivana apresenta oito telas que privilegiam a geometria como elementos construtores, referência que se apresenta de forma pungente nas influências da artista. A assimetria e as cores aparecem como um exercício de desprendimento e marcam sua conexão com a tinta e o tecido.

Uma maneira de fazer laços consigo mesma, unindo ou deixando em aberto as pontas de tantos universos possíveis a cada pincelada, não sem assumir as dúvidas e as angústias de se fazer uma artista. Enquanto conversávamos sobre a exposição, ela me relata sobre um pacto que faz consigo neste processo: o que fizesse sentido, o que estivesse alimentando a sua energia, seria um sinal verde para prosseguir.

Esse é o impulso para criarmos formas singulares de traduzir essa vastidão que é a vida. Quem diz o que é arte senão nós mesmos? Pedir um sinal, implica em ouvi-lo e agir de acordo. Se assim é, a campanhia irá tocar, a porta irá se abrir e o espaço estará vazio, esperando por ser atravessado. Aberturas.
 
Flávia Dalla Bernardina, curadora