RECORTES
Com um olhar poético e em busca de descobertas, Natália Guarçoni estreia como artista visual em sua primeira exposição individual intitulada Recortes. A artista propõe um caminho que vai muito além daquilo que é visível à primeira vista, através de pinturas delicadas, minuciosos recortes, colagens e montagens em papel e linho.
Obras minimalistas nas quais as formas e contornos permitem que luzes e sombras preencham os vazios e proporcionem dramaticidade e revelações. Cores secas, muitas vezes neutras, são uma das marcas de sua produção. Na busca de sensações de calma e conexões profundas, foge dos tons vibrantes. Com inspiração nos elementos e materiais usados na arquitetura – área de sua formação profissional, onde atuou por 14 anos – sua produção artística é um convite à reflexão e à ruptura do pensamento linear.
A mostra apresenta 20 obras e tem as séries Tijolos, Blocos e Janelas como destaques.
“Palavras como tijolos na construção de pensamentos.”
Na série Tijolos, a artista toma posse de um livro antigo (Três contos de Gustave Flaubert, edição 1974) e confere aos textos uma nova poética. A cada página o excesso de palavras dá lugar a uma nova construção – simplificada porém profunda.
A série é construída a partir de duas práticas: recorte para subtração e adição de palavras no vazio. Na primeira, palavras recortadas de páginas de um livro flutuam sobre o empilhamento daquelas que foram subtraídas, formando uma imagem que se assemelha a uma parede de tijolos. Na segunda, a artista se apropria de ranhuras para formar linhas, representando folhas de um livro sem palavras. A partir desse vazio constrói uma poesia que se dispersa pelos seus traços.
“O pouco é suficiente, o vazio preenche.”
Em Blocos, série de pinturas abstratas, recortes e colagens, as texturas em tons de branco e cinza criam uma transparência e claridade não esperada para a rigidez do material. As ranhuras e frisos tomam formas distintas se observados de diferentes ângulos ou distâncias.
“A vista é para dentro.”
Na série Janelas Natália faz um chamado a auto-observação. Propõe um olhar curioso, através de pinturas, molduras de linho e de papel, criando pequenas maquetes para “enquadrar” as paisagens e proporcionar planos de profundidade. A visão do observador tende ao elemento central das telas que é formado por paisagens da natureza vistas através das janelas, contudo a redução dos elementos aparentes deixa um vazio e serenidade que proporcionam ao espectador deslocar o seu olhar do exterior para si mesmo.
Orientada pela simplicidade e pela busca por detalhes, Natália investiga sentimentos através das palavras e das sensações que surgem de seus delicados gestos. Suas obras convocam o espectador para uma desconexão do próprio caos e para uma viagem em busca de quietude, clareza e silêncio.
Curadoria – Parede Galeria